Queridos Amigos,

Jesus nos ampare os propósitos de melhor servi-Lo.

É compreensível as dificuldades naturais da jornada terrena, sobretudo no campo das mais sublimes realizações espirituais a que somos convocados a empreender no plano físico. Os óbices que nos assediam parecem sobrepor-se à nossa capacidade de resolve-los, porém, ao contrário de nos servir como desestímulos e enfrentados com inseguranças, devem ser compreendidos como ferramentas a serviço do nosso aprimoramento constante. E uma vez que os encaremos com boa vontade e determinação, nos farão crescer rumo à almejada perfeição.

Por isso é que os amigos espirituais que nos assistem no plano da matéria densa ou mesmo naquele em que nos projetamos, atendem as nossas muitas necessidades através da voz interna da intuição, não se prestando ao conselho direto na solução das pertinentes questões que nos afligem. Através dessa voz interna eles se confundem com os nossos próprios pensamentos, permitindo-nos angariar méritos e aprendizado, crescendo na afanosa busca das soluções mais plausíveis para os nossos problemas. A intervenção direta acarreta obstáculos, pois impõe pareceres e faz crescer antagonismos, uma vez que exclui a participação ativa de todos os colaboradores sinceros, não permitindo as salutares trocas de pareceres tão úteis ao amadurecimento e a harmonização das forças que compõem o conjunto.

Gostaríamos de, tomando a mão do médium, responder a cada questão, suscitando abalizadas opiniões do Plano Superior, destarte, não estaríamos fazendo-lhes um bem, pois os problemas existem para o adestramento do espírito e por isso a carne nos impõe o esquecimento temporário. E, estejamos seguros, seguindo imposições nos convertemos nos servos inúteis que somente sabem fazer o que se lhes ordenam. O tarefeiro útil não é o que aprendeu a seguir ordens, mas sim aquele que mesmo errando, se empenha na busca de soluções, habilitando-se na capacidade de administrar-se. Por isso, encarem as questões suscitadas como táticas da vida para que todos cresçam, guardando a certeza de que os amigos maiores estão juntos a todos aqueles que atendem pelo nome de fraternista e se entregam, confiantes à vontade soberana do Cristo, esquecendo melindres e abdicando-se de seus interesses personalísticos.

Não vemos assim necessidade de uma interferência direta de nossa singela palavra, propondo soluções que os amigos saberão encontrar com seus próprios recursos. Se foram convocados é por que as questões lhes são pertinentes, competindo-lhes o nobre esforço de encontrarem os melhores caminhos para solvê-las, segundo a obediência da voz interior.

O plano diretor de nossos trabalhos está ciente das necessidades e, mesmo antes que as formulem já determinaram providências. As soluções já foram encontradas, ordens e mensageiros já foram expedidos e todas as respostas já estão impressas em seus corações. Os amigos já se reuniram durante o sono físico e já foram orientados às soluções mais adequadas. Acreditem, vocês já estão maduros para as grandes decisões e não necessitam que se lhes dêem a mão, ainda que irmãos desencarnados, conduzindo-os quais crianças inscientes dos caminhos da vida. Por isso nossa palavra deve ser apenas de estímulos e não a imposição de deliberações já prontas. É um voto de confiança que os irmãos deveriam receber como uma prova de amadurecimento que já conquistaram, e não como uma negativa de uma intervenção direta no trabalho que a todos pertence.

Estamos conectados por teia sutil de pensamentos e atuamos como um harmonioso conjunto muito mais expressivo do que podem os amigos imaginar. Assim é um equívoco supor que aquele que exerce a atividade mediúnica direta se ache mais capacitado para transmitir pareceres e determinar condutas do que quem administra e convive diretamente com os problemas. Este está exercendo uma função mediúnica muito mais abrangente, bastando que silencie a própria vontade e busque ouvir a alma, onde facilmente encontrará ativa a voz dos Espíritos amigos que a todos assistem permanentemente.

Sabemos que não lhes falta mais a intenção de contornar os obstáculos dentro do bom senso e da vontade de acertar. Temos a certeza de que acolherão amorosamente as opiniões ainda que divergentes, compreendo-as não mais com animosidade destrutivas, mas como adversidades indispensáveis e benéficas ao aprimoramento da obra. Recordem que as hastes em oposição é que sustentam as grandes construções da terra e o antagonismo das energias físicas é base para a edificação dos mundos, no universo divino.

O serviço reclama resultados imediatos, contudo, não podemos perder de vista que estamos no campo da cultura de virtudes evangélicas e apenas a semeadura nos compete, pois a frutificação e colheita pertencem ao Senhor.

A solvência de questões pertinentes a “César” deve ser resolvidas segundo os interesses de “César”, dando ao mundo o que o mundo nos exige. Não podemos, porém, olvidar que a prioridade da Obra da Fraternidade é a edificação do espírito humano. Obra que deverá contar com sólidos atributos fundamentados no Evangelho e não nos interesses do mundo, alicerçada no amor ao semelhante e sustentadas por vigas de verdades espirituais. Somente assim ela terá atributos de eternidade e poderá resistir às intempéries da vida. As realizações físicas, naturalmente indispensáveis no plano em que nos projetamos, são apenas meios e não fins, representam as motivações que nos conduzem à conquista da verdadeira realização, aquela que se edifica no espírito e sobrevive para a eternidade. Os problemas administrativos e imediatos, as dificuldades naturais que o mundo nos impõe,
nada mais são do que estímulos que nos conduzem aos objetivos supremos da evolução. Admirável técnica esta, a da construção de almas, em que todo o aparente mal e o entrechoque das rivalidades estão a serviço do espírito, onde se fixam os resultados positivos como realizações supremas das benditas oportunidades que o tempo nos favorece.

As exigências das leis humanas transitórias precisam ser atendidas. Os problemas sociais que nos afligem requerem soluções imediatas. As questões econômicas e tributárias necessitam de se satisfazerem na legalidade e para isso é indispensável dar a “César” o que é de “César” e seguir adiante, sem se deter, para servir às requisições que o Evangelho nos concita como maior urgência. Aqueles que se demoram nos favores e exigências de César
fracassarão, pois as grandes edificações de pedras que não guardam o respaldo do Cristo ruirão sob a voracidade do tempo, pois somente as construções no espírito são feitas para a eternidade.

O nosso modelo de trabalho deve ser aquele que a história nos deixou nos relatos singelos do Cristianismo primitivo que seguiam os imperativos do amor, sem se deterem nas exigências da matéria. Essas são as organizações que mais convém ao trabalho humano que deseja realizar na terra a obra do Cristo. Por isso não se exigem formulações complexas dos empreendimentos humanos, mas basta a boa vontade de servirmos como um organismo, onde cada qual seja capaz de abdicar do seu interesse próprio em prol do bem coletivo.

Nossa realização maior dever ser a vivência do amor fraterno e da moral evangélica e não devemos alimentar maior pretensão do que esta. Não busquemos posições que nos honre a presença na terra, nem as glórias das faustosas construções mundanas e transitórias. Não desejemos posições de destaques no plano humano. Atendamos aos imperativos da glorificação de nossas próprias consciências perante Deus e nada mais. Se objetivarmos
empreendimentos que revelem nossa situação de superioridade ou nos projetam acima das demais realizações humanas, estaremos fadados a inevitável insucesso.

O diálogo é ferramenta que não pode ser dispensada em qualquer circunstância, por mais simplória que possa nos parecer. Não se esqueçam de ouvir os mais humildes, pois eles podem estar muito mais habilitados à percepção das verdades que promanam do mundo maior do que aqueles que ocupam posições de relevo.

Optem sempre pelo amor ao próximo. Deliberem, em toda circunstância, pelo bem comum. Não cedam às sugestões do abuso de autoridade e nem deixem no comando a egolatria do eu inferior. Recordem que ainda é permitido errar, desde que o erro não seja intencional e fruto de nossa secular rebeldia, pois, uma vez que somos ainda ignorantes, a lei nos favorece sempre oportunidades para corrigir dos descaminhos do equívoco. Certamente que sabemos ser impossível agradar a todos, mas é preciso buscar soluções que abrangem o maior número possível de interesses, ainda que os mais melindrosos se sintam ofendidos por não terem seus desejos e sugestões atendidas. A estes pedimos a humildade de ser curvarem ao bem da maioria, abdicando-se dos próprios anseios.

São lembretes singelos que os amigos naturalmente já sabem e que lhes repetimos apenas com o propósito de melhor fixá-los como necessidade indispensável para nos orientar nos objetivos a que nos propomos. E que nos sirvam de guia para os adestrar no amor e na capacidade de apaziguar antagonismos, afinando-nos na verdadeira fraternidade, aquela que se fundamenta no bem de todos.

Acreditem, estas são as nossas mais sinceras intenções e as palavras mais elevadas que podemos lhes transmitir. Sei que ao final de nossa mensagem, estarão julgando-a por demais evasiva e destituída de qualquer valor, por não objetivar soluções concretas no mundo das formas. Porém, guardem a certeza de que esta é a posição que mais convém a uma orientação espiritual. A palavra mediúnica em todos os tempos foi imposta como verdade incontestável, mas se faz a hora de mudar a perspectiva com a qual a recebemos, compreendendo-a como uma mera sugestão afeita à capacidade da mente que a recebe. Esta pode e deve ser discutida e devidamente avaliada pela razão amadurecida, podendo ser negada e corrigida, segundo a conveniência do bom senso, conferindo-se poder de decisão para todos que dela participar com igualdade de condições. Assim o conjunto crescerá, favorecendo a todos a aquisição de genuínos méritos e conquistas evolutivos.

Paz sempre
Adamastor, em nome de Bezerra de Menezes.
Belo Horizonte, 17 de novembro de 2003